sábado, 29 de junho de 2013

a história não contada de oxford e cambridge

Clare College, University of Cambridge

Engana-se quem pensa que a história da universidade é um mar de rosas e diz respeito apenas a questões acadêmicas. Por mais que a universidade tenha sido uma instituição fechada em si mesma até pouco tempo, sua origem e desenvolvimento se deram na base ou como resultado de diversas disputas políticas. Obviamente, cada instituição terá sua história de fundação, umas menos conflituosas e pacíficas que outras, o que, definitivamente, não é o caso da Universidade de Cambrigde, cujo início está ligado nada mais nada menos que a um episódio de assassinato. Abaixo o relato, extraído de The First Universities², de Olaf Pedersen:

A história documentada da Universidade de Oxford começa com um episódio similar, embora com um resultado diferente, graças às condições na Inglaterra àquela época. No começo no século XIII, a situação era influenciada por persistentes tentativas do Rei João (1199-1216) para aumentar seu poder, internamente sobre os nobres, quanto sobre a Igreja, cujo papa à época era o poderoso Inocêncio III (1198-1216). Essa disputa levou a um Interdito¹ geral na Inglaterra em 1208 e à excomunhão do rei em 1209. Aconteceu, então, durante o inverno de 1208-1209, de um estudante assassinar acidentalmente uma garota dentro dos limites da cidade, num lugar chamado Maiden Hall, após o que ele fugiu desaparecido. A cidade levantou-se em grande furor, e quando o assassino não ter sido encontrado, seu quarto foi invadido, e dois ou três de seus companheiros foram capturados e mais tarde enforcados fora da cidade com aprovação do rei.

A princípio, a justiça com as próprias mãos levou ao esvaziamento da universidade. Obviamente, nem a cidade nem o rei estavam interessados em preservar a lei. De acordo com narrativas da época, mas sem dúvida exageradas, não menos que 3 mil estudantes e professores deixaram a cidade e se estabeleceram em outro lugar. Alguns foram a Londres, outros a Canterbury e muitos mais continuaram seus estudos em Paris. Simultaneamente, um outro grupo se estabeleceu em Cambridge, possivelmente na medida em que eram originalmente de lá. Enquanto outros mais tarde retornaram a Oxford, esse último grupo permaneceu em Cambridge, e em 1229 o rei Henry III (1216-1272) passou a oferecer refúgio na Inglaterra e a possibilidade de estudar em Cambridge, entre outros lugares, para estudantes em exílio de Paris. Um ano mais tarde um chancellor é mencionado em Cambridge. Assim, eventos em Oxford causaram a fundação da Universidade de Cambridge, do mesmo jeito que Oxford tinha crescido enormemente a partir do êxodo de Paris em 1167.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------
¹ O Interdito era um dispositivo papal que se impunha sobre uma comunidade inteira: a uma cidade ou todo o reino. Significava o fechamento de todos os edifícios da Igreja e a suspensão de todas as atividades eclesiásticas dentro de área afetada por ele.

² Olaf Pedersen. The First Universities: Studium generale and the origins of university education in Europe. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

aprendizado, tecnologia e surpresas


Antes de entrar no mestrado, tive a ilusão de que meus temas de estudos seriam menos amplos do que na graduação, especialmente por vir de uma área bastante diversificada como a Psicologia. Mas como disse, somente ilusão mesmo. A despeito da etiqueta de stricto sensu, fato é que de estrito não há nada no mestrado, ao menos não antes de iniciar a dissertação. Há disciplinas a cumprir que cobrem uma relativamente extensa parte do conhecimento da área, daí que pipocam autores, ideologias e teorias os mais diversos. E mesmo que tivéssemos um percurso curricular estritamente estrito, é impossível concentrar-se apenas numa linha de investigação, num conhecimento específico. Quer dizer, possível é, há trabalhos monográficos. Mas eu, particularmente, não concebo aprendizagem sem diálogos, vínculos e extrapolações disciplinares e curriculares. Creio, inclusive, que esta é uma tendência pedagógica. Só creio...

Bom, tudo isso para dizer que estou envolvido num MOOC (Massive Open Online Course), em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na Educação, o que, a princípio, fugia totalmente dos meus interesses investigativos. E para minha segunda grande surpresa, estou me vendo participar de uma atividade em espanhol, língua à qual mantive desinteresse e resistência por boa parte dos meus dias. De fato, estou aproveitando bastante o curso, que é oferecido pela Universidad Autónoma de México, na plataforma Coursera, a qual recomendo, inclusive, o acesso. Há bastante coisa legal sendo oferecida por lá.

Gostaria, enfim, com certa aderência à proposta de a superior educação, de compartilhar então um outro blogue que serve de apoio à construção do projeto final do curso, onde venho postando reflexões sobre as TIC na Universidade Federal da Bahia:


Como dice el dicho, la vida nos da sorpresas!

sexta-feira, 17 de maio de 2013

beca à beça

Chancellor da University of Oxford, em cerimônia acadêmica

Com a chegada da minha formatura, me vi envolvido com todo o protocolo de uma colação de grau, das vestes ao juramento, e comecei a pensar algumas coisas a respeito. A primeira constatação foi certo incômodo de que hoje vivemos, em grande escala, a comercialização de tal ritual, mais do que uma verdadeira experiência do seu significado. Nada surpreendente em tempos de educação como mercadoria...

Não quero fazer uma crítica ao capitalismo e a pan-mercadorização que ele executa, no entanto, acredito ser necessário manter alguma lucidez e entender a dimensão de determinados processos sem ceder à naturalidade de uma ressignificação – ou seria assignificação? – no contexto atual. Por outro lado, embora a universidade seja uma instituição milenar com algumas tradições que, em maior ou menor grau, perduram até hoje, não penso que em respeito à história devamos seguir os mesmos protocolos de 500, 900 anos atrás. Ao contrário, penso que devemos manter algum respeito pela tradição, sem, entretanto, beirar o esdrúxulo da repetição desatualizada, descontextualizada ou despropositada. Assim, inevitavelmente me vi também pesquisando sobre o significado dos símbolos acadêmicos de formatura, especialmente das vestimentas, o modo como se originaram, mantiveram durante séculos e se expressam atualmente.

Pelas bandas da lusofonia, não é fácil encontrar bibliografia a respeito desse assunto. Além disso, as poucas fontes ainda pecam pela imprecisão, profusão e confusão de termos. Em inglês, ao contrário, há muitas referências sobre o assunto e até mesmo uma espécie de bíblia: A History of Academical Dress in Europe until the end of the Eighteenth Century¹, de W. N. Hargreaves-Mawdsley. Datada de 1963, é hoje uma obra rara. Mais difícil que encontrá-la, só saber o prenome do autor. O que é importante destacar é que no Reino Unido dedica-se mais importância senão às próprias vestes, ao menos à sua história, de maneira que há até uma sociedade especializada no que eles chamam de academic dress, ou seja, a indumentária característica das sonelidades acadêmicas. Trata-se da Burgon Society². Ah, os britânicos...

O fato é que a indumentária acadêmica não à toa deriva dos trajes eclesiásticos e é tão velha quanto a Universidade, na medida em que as primeiras delas possuíam uma tradição escolástica. Como afirma Noel Cox, a história da indumentária acadêmica é a história da educação na Europa, a qual esteve intimamente ligada com a Igreja³. Becas e batinas, portanto, são primas bastante próximas, senão irmãs. Chamadas vestes talares (do latim talus - tornozelo), cobriam o corpo dos ombros aos pés, e suas explicações de uso são varias: alguns pesquisadores apontam a denotação de humildade e sobriedade do traje negro, outros acreditam que era uma maneira de nivelar pobres e ricos, e outros ainda são mais pragmáticos,  ou seja, eram as vestimentas mais adequadas para o clima frio da Europa.

Compondo os trajes acadêmicos, vinham os adornos: chapéus, faixas, capas e aneis, os quais possuíam função distintiva, tanto hierarquicamente como em relação à área de conhecimento.  Assim, a veste de um bacharel, via de regra, não seria o mesmo de um doutor. Obviamente, entre países distintos mudavam algumas peças, recortes, detalhes e cores, e mesmo de universidade para universidade havia variações.

Num primeiro momento a beca era uma espécie de uniforme cotidiano, tendo sofrido adaptações locais e temporais. A partir de finais do século XV, no entanto, seu uso já não era tão difuso, estando restrito às tradições anglo-saxônicas e ibéricas, embora por razões distintas em cada um dos casos, e com isso a tradição chega nas colônias inglesas, espanholas e portuguesas na América, onde também resistiram ao tempo.

Mas não por tanto tempo, no fim das contas. Se antes a universidade era para uma pequena elite, hoje ela se abre para as camadas populares, e mesmo não podendo falar de universalização ou massificação efetivos no Brasil, tampouco pode-se dizer que permanece um privilégio restrito à classe dominante. De certo modo, essa condição oferece um impacto simbólico nas antigas tradições universitárias. Também a dinâmica das sociedades são outras, ritos e rituais se perderam ou se reinventaram, e assim algumas práticas passam a não fazer tanto sentido quanto outrora.

Percorrido esse caminho histórico, certa desconfiança faz-se certeza: o século XXI não vende apenas a educação, que embora imaterial guarde certa tangencialidade, mas até a simbologia dos marcos acadêmicos. Por falar nisso, vou ali estou saindo para alugar minha beca...

------------------------------------------------------------------------------------------------------------
¹ William N. Hargreaves-Mawdsley. A History of Academical Dress in Europe until the end of the Eighteenth Century. Oxford: Clarendon Press, 1963.
² Página da Burgon Society: http://www.burgon.org.uk/
³ Noel Cox. Academical Dress in New Zealand. In: Burgon Society Annual, 2001. Disponível em: http://www.burgon.org.uk/society/library/trans/annual2001.pdf

quinta-feira, 9 de maio de 2013

habemus UFSBA¹


Após ter passado pela Câmara, foi aprovado ontem no Senado, o Projeto de Lei nº 2207/11, que dispõe sobre a criação da Universidade Federal do Sul da Bahia, a UFSBA, e agora aguarda apenas a sanção presidencial. 

Tendo sido projetada ao longo dos dois últimos anos, sob a tutela da Universidade Federal da Bahia, a recente instituição federal de ensino superior já representa uma transformação desse nível de ensino no país, ao propor uma estrutura acadêmica diferenciada e plano pedagógico inovador, possibilitando uma nova relação com o saber e verdadeiro compromisso ecossocial.

Muito há para ser falado sobra a UFSBA, das suas arquiteturas curriculares arrojadas ao impacto econômico para a região de instalação. Por ora, deixo que os princípios do seu Plano Orientador² falem por ela:

  1. excelência acadêmica – compromisso com a qualidade, originalidade, criatividade e relevância na produção de saberes e práticas referentes ao estado da arte da rede universitária contemporânea;
  2. eficiência – no sentido de uso otimizado de recursos públicos, como potencial de mais vagas em relação a docentes, instalações e equipamentos disponíveis;
  3. sustentabilidade – compromisso de proteção da biodiversidade e promoção de consciência ecossocial, com mobilização social e cidadania ativa, incorporado ao próprio processo de formação;
  4. impacto social – ampliação do acesso à educação superior, com inclusão social, destacando políticas de promoção de permanência e fomento ao êxito na formação;
  5. ressonância regional – maior cobertura geopolítica e rapidez de resposta na formação de graduados e pós-graduados, visando provocar efetivo impacto nos processos de desenvolvimento econômico, social e humano da Região;
  6. pluralidade pedagógica e flexibilidade – no duplo sentido da diversidade metodológica e de áreas de formação, implicando oferta de cursos necessários ao desenvolvimento da Região (engenharias, tecnologias industriais, saúde);
  7. interface sistêmica com a Educação Básica – ao fomentar formação interdisciplinar e flexível de docentes para os níveis médio, fundamental e infantil de ensino.
  8. articulação interinstitucional – na medida em que várias instituições públicas ofertam cursos superiores na Região, todo o planejamento institucional e acadêmico será realizado em estreita articulação e ampla consulta com as instituições, evitando assim duplicação, redundância ou desperdício de recursos públicos.
Resta aguardar o aval da presidenta e acompanhar os trabalhos de instalação. Com a constante reflexão conceitual das suas missões e metas, é tempo de operacionalizar as ideias, para ver em funcionamento a nova universidade, cuja previsão é de receber os primeiros estudantes já em setembro de 2014.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------
¹ Título emprestado da notícia que foi vinculada no Portal UFBA: https://www.ufba.br/noticias/habemus-ufsba-bahia-conquista-terceira-universidade-federal
² Naomar de Almeida-Filho et al. Plano orientador institucional e político-pedagógico da Universidade Federal do Sul da Bahia: minuta 6.0. Salvador: EDUFBA, 2012. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/117283898/PLANO-ORIENTADOR-DA-UNIVERSIDADE-FEDERAL-DO-SUL-DA-BAHIA

terça-feira, 30 de abril de 2013

a gênese da universidade no brasil: criacionismo ou evolução?

Foto da antiga Faculdade de Medicina no Terreiro de Jesus, Salvador
Nasce mais um blogue, e aproveitando a deixa para assuntos de nascimento convém abordar a gênese do ensino superior. Obviamente, procedo a um recorte ao caso brasileiro, em sua condição de relativa simplicidade ao desenvolvimento desse nível de ensino no restante do mundo, que eventualmente será tratado em outra postagem.

Bem, antes de tudo que fique o registro de que a simplicidade é apenas relativa. Como mostram dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o Brasil em 2008 possuía um sistema de Educação Superior (ES) com uma dotação global de aproximadamente 1,4% do PIB nacional, um indicador maior que de países como a Alemanha, Itália, Espanha e a média da União Europeia¹. Deixando os números de lado, dada já a dimensão da coisa, passemos à história, a qual, infelizmente, não revela muitos fatos, ao menos não tanto quanto gostaríamos.

Tradicionalmente, considera-se que é com a chegada da família real no Brasil que se inaugura o ensino superior no país. Em 18 de Janeiro de 1808, é criada a Escola de Cirurgia, atual Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, em Salvador. No mesmo ano é instalada a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro. Em 1827, são criados os Cursos de Ciências Jurídicas e Sociais em São Paulo e Olinda. Completando o grupo das chamadas profissões imperiais, as Engenharias desenvolvem-se ao longo do século XIX, com a implantação de cursos e Escolas Militares, Navais e de Minas. Do modo como foram organizados esses primeiros cursos superiores, duas características são marcantes: a organização autônoma (não-universitária) e a preocupação basicamente profissionalizante.

Mais uma vez relativizando a simplicidade do tema, problematizo adiante esse marco do ES brasileiro. Expulsa de Portugal e suas colônias em 1759, a Companhia de Jesus foi responsável pela educação colonial no Brasil, orientada religiosamente e com um modo de organização curricular que compreendia os estudos secundários e superiores, com direito a cerimônias de graduação acadêmica, anel simbólico, livro de juramento, capelo azul e quatro faculdades superiores². As solenidades e rituais obedeciam ao protocolo da Universidade de Évora, em Portugal, pertencente aos jesuítas, e chegou-se a solicitar o reconhecimento do Colégio dos Jesuítas na Bahia como Universidade, o que foi negado pela Coroa Portuguesa. Óbvio, os irmãos lusos queriam ao máximo preservar sua preciosa colônia enquanto tal, negando-lhe qualquer possibilidade de crescimento intelectual, desde sempre um dos maiores medos do dominador.

Aliás, a questão da universidade sempre foi um problema no Brasil, tanto em seu aspecto conceitual quanto de suas missões, e também do ponto de vista historiográfico. Propostas de implantação se arrastaram durante todo o período colonial, Império e primeiros anos da República, entretanto todas fracassadas, evidentemente. Somente no século XX o país vai conhecer suas primeiras instituições universitárias, ainda assim com algumas ressalvas e descontinuidades.

Primeiramente, não há consenso sobre qual teria sido a primeira universidade em solo brasileiro. Algumas fontes consideram que teria sido a Universidade do Rio de Janeiro (1920), oficialmente instituída pelo governo federal e existente somente no papel, enquanto não passava de uma reunião de três instituições de ensino superior completamente desprovidas de uma identidade gregária e universitária. Antes disso, no entanto, em 1909 havia sido criada a Escola  Universitária  Livre  de Manáos. Posteriormente, em 1911 e 1912, respectivamente, são fundadas a Universidade do São Paulo (não se trata ainda da atual USP) e a Universidade do Paraná. Contudo, todos os três empreendimentos referidos não tiveram longa vida, deixando de existir por razões distintas. A partir daí começam a surgir as primeiras e longevas universidades: em 1927, a Universidade de Minas Gerais, e alguns anos depois, em 1934, a atual Universidade de São Paulo passar a existir.

Ao longo do governo Vargas (1930-1945) o que se viu foi o início de uma regulamentação sistemática do Ensino Superior, a exemplo da instituição do Estatuto das Universidades Brasileiras pelo Decreto nº 19.851, em 1931, pautado no forte centralismo estatal que caracterizou o período. Tal centralismo traduziu-se no campo educacional em políticas autoritárias que iam de encontro ao desenvolvimento de ideais liberais de educação, presentes em Anísio Teixeira e sua Universidade do Distrito Federal, fundada em 1935 e extinta em 1939 por decreto presidencial.

O período posterior conhecido como República Populista (1946-1964) revelou-se um período crucial para o Ensino Superior, havendo um crescimento do número de universidades: de 5 instituições em 1945, passou-se a 37 em 1964. Entre as instituições criadas, ressalta-se a Universidade de Brasília (UnB), em que Anísio Teixeira, mais uma vez, e Darcy Ribeiro estiveram à frente, cujo destaque é em função de sua vocação científica e estrutura organizacional e curricular integrados: pela primeira vez uma universidade nascia não do agrupamento de escolas e faculdades, regra para todas as instituições universitárias já citadas aqui. Infelizmente, o Golpe de 64 pôs abaixo toda o arrojo e inovação da UnB, com episódios lamentáveis de perseguição político-ideológica e interferência gerencial.

A partir daí muita água passou por debaixo da ponte da educação superior: reforma universitária, ditadura militar, redemocratização política, inflação, privatização e recentemente expansão e democratização de acesso. História pra muitos livros, artigos e postagens. O importante aqui é problematizar a problemática questão da universidade no Brasil, como já referido. Em vista de sua constituição histórica, é possível dizer que o Brasil teve seus primeiros exemplares de universidade com o ajuntamento de instituições com vocações estritamente profissionais e distintas, no que diz respeito a objetivo, uma das outras? Em outras palavras, conceitualmente essas instituições eram verdadeiras universidades? Aceitando que uma instituição digna desse nome só existe assentada no tripé ensino-pesquisa-extensão, dificilmente diremos sim à pergunta feita. E aí surge outra indagação: qual teria sido a verdadeira primeira universidade brasileira? Caberia um exame de qual delas teria incorporado os valores da missão tripla.

Em suma, para estudarmos a gênese da universidade brasileira, é preciso ir além das datas de criação, fundação, instituição ou regulamentação, como se nascessem prontas, por vontade divina. Na verdade,  são instituições ainda em evolução, tentando-se adaptar ao seu habitat. Papo para depois...

-------------------------------------------------------------------------------------------
¹ Fernando Seabra Santos & Naomar de Almeida Filho. A quarta missão da Universidade: internacionalização universitária na sociedade do conhecimento. Brasília: UnB, 2012.
² Boaventura, Edivaldo. A Construção da Universidade Baiana: Objetivos, Missões e Afrodescendência. Salvador: EDUFBA, 2009, p. 83.


segunda-feira, 29 de abril de 2013

o começo

Intuitivamente, tendemos a relacionar o ensino superior com o crescimento econômico e desenvolvimento social, seja pela formação profissional, pela pesquisa científica ou via extensão universitária. Também a retórica oficial dos governos é da valorização dos sistemas de ensino e investigação, e sobretudo a própria Academia está constantemente pensando e repensando sobre si mesma, suas funções e compromisso social. A produção do conhecimento nesse tema, no entanto, parece não acompanhar a dimensão estratégica referida anteriormente: há no Brasil somente um programa de pós-graduação stricto sensu estritamente voltado para o tema da educação superior, o de Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade, oferecido na Universidade Federal da Bahia, e poucos são os programas em Educação que o abordam como linha de pesquisa.

Em face dessa condição, movido por um forte desejo de estudar e escrever sobre a Educação Superior, e assentado na justificativa da relevância social e econômica desses estudos, nasce o blogue a superior educação, adotando-a como objeto de reflexão, através de relatos de pesquisa, notícias e, por que não, anedotas e curiosidades, contribuindo um pouco para a difusão dos estudos sobre o tema.